agosto 12, 2007

Danças para mim

Ouvem-se entre as fogueiras notas de uma guitarra perdida algures.
Cheira a madeira e o calor invade tudo, entre faúlhas crepitantes e fumo...


E agora, que está na hora, cheira a alecrim, a canela e a orgulho.
Homens de calças negras e camisas presas por um nó, pés nas cadeiras, dedilham guitarras, preparam a voz, num ritmo só.
Vestidos compridos, coloridos, cabelos negros revoltos, ouro, jóias e brilho... É noite de tradição e de magia, de cumplicidade, no ar que se respira...É a última do verão, noite de sonho e de paixão.
E de repente calam-se as guitarras e cala-se a voz. E entras tu. Saúdas as damas, entre o fumo e as chamas, levantas os braços, dás o primeiro passo, retoma-se o ritmo e perco-me...no teu cabelo, nessas mãos levantadas ao céu, nesse torso, nú, que quero meu. E danças entre o fogo e as fumaças, passas por mim, nem sei se me vês, és ritmo, és luar, és luz, dobras e vibras e a terra vibra debaixo dos teus pés. E não tiro os olhos de ti, do teu corpo perfeito, cansado, brilhante, do porte orgulhoso, do cabelo solto, das pernas e desse vulto que o negro das calças não esconde, das voltas, sapateado, do cabelo longo, alado, dos pés que batem a terra, dos braços, das mãos, dos lábios entreabertos, dessa paixão que te consome, me envolve e nos devora.... e vês-me agora, e sorris, ao ver-me despida, além do xaile e da saia comprida, de pé, à tua frente, desperta e ofegante...e tomas-me, nesta dança de despedida, entre chamas azuis e saia garrida, entre notas perdidas e chamas de vida, entre paixão e desejo, já saudade e ainda beijo, entre o céu e as estrelas e o luar como testemunha, entre gritos e ternura, entre o amor e a loucura, como nunca antes...meu orgulhoso e eterno amante.

3 comentários:

Anónimo disse...

Que texto tão descritivo, fui até lá pelos pormenores, visualizei, consegui ver a 'cumplicidade' e a 'dança', a forma de chegar e ofuscar o 'resto do mundo', parar o tempo naquele tempo impreciso que às vezes acontece e se sorri lentamente. Apreciei as luzes, os azuiís do fogo, os laranjas anlaçados nos amarelos... Brindei no fim à vida e a quem a aprecia devidamente, e gostei de ouvir a música perdida no mar, havia mar? eu vi o mar, logo ele estava por lá.

Engraçado perdi-me em duas palavras 'saudade' e 'ternura' há qualquer coisa que rima entre elas.

See you.

João Cordeiro disse...

Lindo simplesmente

Anónimo disse...

A música e a dança entraram-me pelos sentidos adentro como lanças pontiagudas, enquanto ouvia Frank Sinatra...

Um beijo...:-)