julho 28, 2007

Carta

Gosto muito de ti.
De acordar e saber que te encontro.
Sem saber de onde vens,
mas também não me importo.
Gosto de te sentir ao meu lado
quando me viro na cama.
Gosto de te saber em casa
para o jantar.

Sei bem que não gostas de multidões,
de teatros, de cinema, por isso nem te peço
para me acompanhar.
O barulho dos centros comerciais incomoda-te.
Vou sozinha comprar...
Os teus cereais, a tua fruta, o teu vinho,
tudo escolhido com muito carinho.
Sei que estás cansado. Muito trabalho, muitos serões.
Fins-de-semana passados a trabalhar.

Sei que te vou encontrar a ler, ou a jogar.
Ultimamente preferes o computador. Faço o que
posso para não te incomodar, meu amor.

Deito-me cedo. Espero por ti.
Muitas vezes adormeço sem te abraçar.
Levanto-me cedo. Deixo a casa a brilhar.
Faço o teu almoço e vou trabalhar.

Não me lembro bem se ainda me procuras.
Mas estás em casa. Estou segura.
Já não me lembro bem do teu sorriso.
Mas sei que me amas, dizê-lo não é preciso.

Hoje fui às compras sozinha.
Comprei coisas lindas, de rendas e de seda.
Não, não precisas de ver...para ti sou uma princesa!
Mas...eu até queria mostrá-las.
Que as tirassem, me tocassem sem elas.
Sei que não tenho rival,
mas tenho saudades tuas, afinal.

Mas deixa estar. Nem te preocupes.
Continua aí, entre o trabalho dobrado e esse jogo viciante
que te mantém afastado de mim pela madrugada fora.
Não sei com quem trocas tantas mensagens.
Mas porquê pensar nisso agora?
Nem porque pareces tão feliz quando chegas, apesar de cansado.

Hoje vais chegar, como sempre, cansado e sorridente.
E sem vontade de falar.
Nao faz mal. Vais encontrar a mesa posta.
O jantar não sei se faço.
Mas deixo-te uma casa vazia de mim.
E levo algumas recordações.
Não muitas. Não há muito de bom para levar.
Mas sabes? nos ultimos tempos, aprendi muito.
Não fui feliz, mas ainda vou a tempo...

2 comentários:

Phantom of the Opera disse...

Claro que ainda vais a tempo e ele também.
Nunca nos devemos acomodar às situações... a vida é uma luta constante.

Bom texto.

Beijo

Anónimo disse...

Apenas uma carta...mas tão adequada a tantos casos... quantos se esquecem que uma relação é feita de conquistas diárias, de pequenas cumplicidades... e dão como garantido o que têm...afinal está ali ao lado,exactamente como querem, por isso para que preocupar-se?
E no final, quando olham para o lado...é apenas para constatar que andaram demasiado ocupados com o que não era importante...e perderam aquilo em que realmente queriam...